quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Estudante vence o câncer, passa em medicina e sonha curar outros pacientes"Esse é um dos dias mais felizes da minha vida e eu queria dividir essa alegria todinha com meus queridos amigos, anjos que Deus colocou no meu caminho esse ano, pessoas maravilhosas que estiveram do meu lado ao longo de todo esse percurso espinhoso demais", comemorou no Facebook.


Eric Ferreira venceu o câncer e agora vai ajudar outras vítimas da doença. Fotos: Eric Ferreira/Facebook/Reprodução
Eric Ferreira venceu o câncer e agora vai ajudar outras vítimas da doença. Fotos: Eric Ferreira/Facebook/Reprodução

A tosse persistente durou cinco meses. Incomodava a ponto de não deixar dormir. Um dia, a causa do incômodo foi revelada. Eric de Santana Ferreira tinha 15 anos. Não imaginava, mas o diagnóstico mudaria os planos alimentados a partir da infância. Sete anos se passaram desde aquele dia. Na segunda-feira (26), Eric postou um longo texto no Facebook. Começava assim: “Pois é, galera, passei! Passei em Medicina”. Até esta quarta-feira (28), 679 pessoas curtiram a tal postagem. Outras 188 deixaram seus comentários. A repercussão daquele amontoado de palavras na rede social escrita por um fera não aconteceu à toa. É que Eric parece ter desenvolvido uma fórmula para enfrentar notícias pessimistas. Mas, para entender a história do estudante, é preciso voltar no tempo mais uma vez.

Inicialmente, os médicos disseram que a tosse de Eric era sintoma de uma virose. Até receita de xarope a família do então adolescente levou para casa. A busca pela cura somente começou a surtir resultado a partir do diagnóstico correto feito por uma pneumologista. Não era apenas a tosse um dos sinais da doença que tomava o adolescente. O pescoço estava repleto de caroços salientes. Na verdade, Eric tinha linfoma de Hodgkin, um câncer que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático. Juntamente com o linfoma não-Hodgkin, são os dois tipos mais comuns de câncer que podem acometer o sistema linfático. Só que o linfoma de Hodgkin é menos recorrente.

Era o ano de 2008 quando a notícia surgiu e Eric já havia planejado o ano seguinte: cursaria o terceiro ano do Ensino Médio, faria o vestibular de jornalismo, sonho alimentado desde criança, e ainda seria protagonista de duas peças de teatro. Na agenda imaginária de Eric não havia tempo para hospitais, quimioterapias, radioterapias. Mas o mundo gira, como ele próprio diz. Às vezes, de forma radical, sem deixar nem tempo para respirar.

Em seis meses, foram 12 sessões de quimioterapia e 17 de radioterapia. A primeira delas aconteceu em 1° de julho e durou sete horas. Sem condições de aventurar a saúde em ambientes públicos comuns para adolescentes, não sobraram muitas alternativas para Eric. Então ele começou a estudar mais do que normalmente fazia.

O resultado foi a conquista de uma vaga de jornalismo ainda no segundo ano. Agora em fevereiro ele conclui o curso e leva o diploma para casa. Mas não é mais o jornalismo que move suas expectativas como na época de criança, quando fez um jornalzinho para a escola. A doença mudou tudo para Eric. E agora ele deseja mudar também a vida de outras crianças com câncer.

A decisão de buscar o curso de medicina aconteceu em 2012, durante um intercâmbio de jornalismo em Nova York. “Imagine a mãe de uma criança com câncer ter seu filho atendido por um médico que teve câncer. O fato de ter ficado doente influenciou 90% na decisão de mudar de profissão”, conta. Ele conquistou uma vaga na Universidade Federal da Paraíba e na Faculdade Maurício de Nassau, mas vai optar pela primeira. “Pretendo continuar morando no Recife. Vou e volto todos os dias”, avisa.

Formado médico, Eric diz que vai poder contar a seus pacientes da oncologia pediátrica a fórmula para enfrentar notícias pessimistas. “Sei que o câncer tem um forte estigma de morte. Mas é isso que faz com que as pessoas fujam de exames de rotina e não encontrem a cura com antecedência. O remédio é a esperança. Sabia que ia me curar pela minha postura. É isso que quero passar para as pessoas”. Na postagem, Eric brinca e diz que o câncer mexeu com a pessoa errada. “Superei e vou fazer meu máximo pra que outras crianças também superem! Vai dar tudo certo e vou botar muito guri curado nesse mundo!”. Acho que agora ninguém mais duvida de Eric.

“Me sinto privilegiado. O câncer me fez ver a vida de outra forma. Passei a minimizar os problemas. Tudo é menor em relação à possibilidade de morrer. O câncer é uma doença, mas quando a cura surge é um presente.”

http://www.diariodepernambuco.com.br/
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