terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Travesti pede para ser chamada pelo nome social na UFPEMaria Clara matriculou-se com nome masculino. Ela entrou com requerimento para ter adotado o nome feminino



A tatuagem cravada para sempre no peito de Maria Clara Araújo manda a mensagem. “Não se nasce mulher, torna-se uma”. Travesti, negra, pobre, Maria Clara, aos 18 anos, oficializou, nesta segunda-feira (2), seu novo papel social. Matriculou-se no curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em uma sociedade que costuma expulsar suas travestis para bem longe das bancas escolares, Maria Clara é sinônimo de vitória. E de ineditismo. É a primeira vez que a instituição pernambucana formaliza o requerimento de uma mulher transexual pedindo para ser chamada pelo nome social nos corredores da universidade.

Mãe de Maria Clara está muito feliz com a aprovação da filha e comemora raspando sua sobrancelha (Facebook/Divulgação)
Mãe de Maria Clara está muito feliz com a aprovação da filha e comemora raspando sua sobrancelha
É que, no ato da matrícula, Maria Clara não foi autorizada a adotar o nome feminino porque seus documentos ainda estão com o nome de registro no cartório, ou seja, o masculino. “Ainda não mudei meu nome nos documentos porque fiz questão de juntar muito material para legitimar minha solicitação de mudança de nome. O pedido já foi feito junto ao Centro de Referência à Cidadania LGBT da Prefeitura do Recife e, em breve, terei a resposta”, disse.

A pró-reitora para Assuntos Acadêmicos da UFPE, Ana Cabral, disse que não haverá problema em adotar, na UFPE, o nome social de Maria Clara. “É relevante ela ter sido classificada. Acho que temos que tratar o caso como o de uma estudante que teve mais dificuldade de ter acesso à universidade, como falam os representantes da comunidade”, pontuou Ana Cabral, referindo-se às pessoas transexuais.

Maria Clara explica melhor. No domingo (1), ela usou as redes sociais para publicar um manifesto emocionante sobre o simbolismo de sua aprovação em uma universidade pública. “Desde muito cedo, o âmbito educacional deixou o mais explícito possível suas dificuldades em compreender as particularidades de minha vida: aos 6 anos, desejando ser a power ranger rosa; aos 13, usando lenços na cabeça; aos 18, implorando pelo meu nome social e, logo, o reconhecimento de minha identidade de gênero. Nenhuma foi atendida. Nenhuma foi levada a sério como algo que eu, enquanto um ser humano, preciso daquilo para me construir e ter minha subjetividade”, escreveu.

Maria Clara também é a primeira pessoa da família a cursar a UFPE. Explicar a permanência dela na escola, onde diz ter sofrido violência psicológica e física durante todo o ensino fundamental e médio, poderia até ser um desafio. Não é. “Não desisto fácil”, simplifica ela. “Vi, pouco a pouco, outras possíveis travestis e transexuais desaparecendo daquele ambiente porque ele nunca simbolizou um espaço de acolhimento, educação e aprendizagem. Mas sim de opressão, dor e rejeição”, desabafou. No próximo dia 24, seu pai programou uma festa de aniversário e uma comemoração pela conquista na UFPE. A mãe fez questão de raspar a sobrancelha da filha. Como pedagoga, Maria Clara planeja fazer a diferença.

Em um dos trechos mais fortes do depoimento no Facebook, Maria Clara reflete sobre o papel da travesti. “Olhe ao seu redor! Quantas travestis e mulheres trans você se depara no seu dia a dia? Quantas estão na sua sala de aula? Quantas te atendem no supermercado? Quantas são suas médicas? Espere até as 23hrs. Procure a avenida mais próxima. As encontrará. Porque lá, embaixo do poste clareando a rua escura, é onde nós fomos condicionadas a estar por uma sociedade internalizadamente transfóbica.”

O Centro Estadual de Combate à Homofobia explica em números as dificuldades de acesso das pessoas transexuais ao ensino superior. Hoje o espaço atende 98 pessoas transexuais, entre homens e mulheres. Dessas 98 pessoas, 19 possuem ensino fundamental, 47 possuem ensino médio incompleto, 20 pessoas possuem ensino superior (9 mulheres e 11 homens), 4 possuem ensino técnico e 8 são analfabetas. “Ela não é a primeira travesti a acessar o ensino superior no estado, mas é a primeira a exigir o uso do nome social naquele ambiente. Quem quiser pode procurar o disque 100 ou o centro para denunciar que não está tendo a cidadania garantida na universidade”, disse Hugo Lima, coordenador do centro.

http://www.diariodepernambuco.com.br/
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